Quem sou eu

Eu me chamo Lara Ferreira Rocha e tenho 25 anos. Sou dentista, paciente oncológica, e moro em Fortaleza. Tenho muita história pra contar...
Em agosto de 2008, fui diagnosticada com câncer no abdômen. Meu tipo é raro, um tumor desmoplásico. Como ele, eu sou rara também. Sou animada com a vida, tenho fé em Deus, sou engraçada, sorridente, feliz, simpática e tantas vezes ingênua.
Conto, aqui, algumas de minhas novidades, além de escrever o que penso, o que vejo, o que sinto.

Eu penso muito no amor, com certeza.
Espalhe todo bom sentimento por onde andar, ame você também!



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Perdoe-me, perdão

Há exatamente quatro anos, seis meses e 20 dias, perdi minha avó por parte de pai.
Muito lúcida e jovem, foi vítima de problemas cardíacos.

Eu tinha duas avós e um avô. Avô postiço, era padastro de meu pai.
Era meu avô, porque nasci e ele já existia em minha vida. Casou com a mãe de meu pai antes mesmo de minha mamãe pensar em engravidar de mim.

Infelizmente, perdi esse meu avô junto com a minha avó. O ano foi de uma tristeza muito grande.
Ele saiu de nossas vidas sem deixar rastros.

Vovó faleceu no fim de maio daquele de2006. Lembro que era época da Copa do Mundo. Estava viajando de carro e conversando sobre os últimos acontecimentos, dizendo como não entendia que o "meu" avô estava fazendo aquilo.
Bem, não cabe aqui falar tudo, pois estou detalhando vivências, acontecimentos sérios. Tenho um motivo, você vai perceber mais tarde.

Essa conversa toda é por casa dele, o avô.
Nós continuamos a frequentar a sua casa, claro, porque ele era da família.
Era um senhor gordo, de pele clara, cabelos brancos e jeito sereno. Era querido, eu o queria bem.
Em 2006, ainda, casou com outra mulher e cortou laços conosco -- comigo, meus pais, minhas irmãs. Qual o motivo? Não sei. Nunca tive explicações.
Sei que fui expulsa de sua casa -- não só eu --, mas aquilo me doeu bastante. Me doeu na alma, se é que se pode doer assim.
Por que, afinal, alguém faria isso?
Continuo sem saber.

Em 2006, perdi uma avó e um avô.
Sonhei demais em poder falar com ele novamente, meu amor era grande. Minha raiva passou, não tinha porque querê-lo mal. Às vezes eu pensava que ele era prisioneiro, que era obrigado a nos renegar. (Mas a gente só faz as coisas se quiser, não é verdade? Se a ideia é de outro, mas a concebemos, é porque, de algum modo, ela nos é certa.)

Há uma semana, deram-me a notícia de que ele estava internado, doente. Horas mais tarde, ele faleceu.
Estava melancólica. Saber daquilo me deixou com um sentimento de pena maior do que o da saudade.
Sim, eu sentia saudade, mas minha dó era porque não pudemos nos reconciliar, e agora era tarde. Eu esperava que ele me pedisse desculpas.
Senti, dentro de mim, a necessidade de vê-lo no velório, e briguei por isso. Fiquei triste, me emocionei. Era meu avô alí no caixão, e nós não nos falávamos há mais de quatro anos!

Nunca consegui entender esse afastamento, essa insensibilidade, por um simples motivo: eu não sou assim.

Hoje, na missa de sétimo dia, pedi perdão. Não foi ele quem se desculpou.
Nunca vi uma missa de sétimo dia tão sem emoção. Não somente por mim, mas por todos ali presentes, todos que minha vista conseguia enxergar.
Lia os versos do missal, as homenagens escritas, os textos ressaltando como aquele homem era bom, generoso, caridoso, solidário, amoroso.
Na minha cabeça, ia negando, como se balançasse a cabeça de um lado pro outro, como que fazendo um NÃO.
Não vivi com esse homem tão majestoso. Pelo menos, não o tempo todo.

Aí eu percebi que achava que o tinha perdoado. Achava, porque, àquele momento, só consegui ressaltar como ele me maltratou e nos maltratou.
Reclamei, em casa, do orgulho de alguns, mas não me via dessa maneira.
Tô vendo como o perdão é difícil. Quero lembrar dele como essa pessoa boa, generosa, caridosa, solidária, amorosa, e não como alguém que fingia que eu não existia e me reconhecia sem carinho.

Sei que ele perguntava por mim, às escondidas, mas renegar a família é de uma frieza enorme.
Mesmo assim, eu pensava tê-lo perdoado.

Dizem que quando se entra pela primeira vez numa igreja, pode-se fazer um pedido, não é?
Eis o meu: quero esquecer as ofensas, quero amá-lo verdadeiramente, quero colocar um véu sobre o passado.

Fico aqui imaginando como muitas famílias se perdem por discussões bobas, dinheiro, divisão de bens. Não tenho em mim essa desunião.
Pelo amor de Deus, não leve isso adiante. Sentir isso é ruim, meu povo. Não queria, não.

7 comentários:

Lara disse...

Deu pra entender?

Lívia Fiuza disse...

Deu demais.

Lara disse...

Achei que tinha feito a maior confusão. Complica, né?

Alexandra disse...

teve umas coisas que eu não entendi não, mas deu pra entender o principal! E por incrível que parece passamos por uma situação idêntica... depois podemos compartilhar experiências! beijos Larinha

Lara disse...

É que escrevi bem no momento, sabe? Aí as idéias vêm todas ao mesmo tempo, e fica meio misturado.

Amiga, que ruim. :(

Anônimo disse...

Nos prendemos muito à nossa razão, quando há rompimento de laços familiares sempre gera muita dor para as duas partes, e cada uma fica presa a sua própria razão, seu avô com certeza também sofreu muito com a distância das netas queridas, a idade deve-se ser levado em conta, o tempo turva as nossas idéias, e para sermos justo temos que enxergar o que ele fez de bom e o que o que não foi tão legal e para sermos generosos ficamos com as lembranças boas, às vezes é melhor ser feliz do que ter razão.

Lara disse...

Exato! É isso que quero. Preciso.

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